sábado, 21 de março de 2009

Motor 2.0, 500 cavalos

Comparações entre a web 1.0 e 2.0

Quando surgiu para o grande público, há pouco mais de 10 anos, a internet parecia apenas um novo canal de distribuição de informação para competir com rádio, televisão e mídia impressa. As possibilidades soavam promissoras, mas a verdade é que poucos imaginavam que chegaríamos a 2009 discutindo como a internet está mudando a sociedade e influindo de forma definitiva em alguns ramos da economia _ em tão pouco tempo.

Nessa fase inicial, quem detinha o controle da tecnologia, ou poder econômico para controla-lá, era também quem controlava a informação. Funcionava como nas emissoras de televisão: só uma empresa com capital suficiente para comprar máquinas e equipamentos de transmissão de imagens _ um investimento enorme para um cidadão comum _ poderia concorrer a uma concessão de um canal de TV e, com a licença, transmitir conteúdo para o público. Na rede, apenas as organizações que podiam pagar pelo desenvolvimento e manutenção de um site tinha o privilégio de se comunicar com o público. Eram praticamente as mesmas regras.

Em poucos anos, percebeu-se que as imensas possibilidades da internet não estavam nos lucros que a rede poderia gerar para as empresas que, até então, controlavam os meios de produção de informação. Fortunas se desmancharam na bolsa de valores americana na medida que os balanços das companhias recém criadas para capitalizar a primeira fase da rede foram apresentando manchas vermelhas. Percebeu-se que a internet não tinha vocação para reproduzir a velha equação da comunicação, onde existe um emissor, uma mensagem e um receptor. Dessa matemática, empresas destilaram lucros por décadas, vendendo a atenção de seus grupos de receptores para anunciantes e cobrando pelo envio da mensagem.

Dessa primeira fase, sobreviveram as empresas e ideias que continham uma nova concepção para a internet. Em vez de meio de comunicação, uma plataforma de conexões entre pessoas e produção de conteúdo gratuito por parte do próprio público. A tecnologia permitiu que os meios de produção de conteúdo fossem entregues aos usuários, como se um jornal entregasse as chaves da gráfica para os leitores. O custo de divulgação de ideias foi a zero. Tecnologias de interação entre público e mensageiro se sofisticaram de tal forma que a internet começou a apresentar outra vocação: uma grande praça.

Empresas como o Google ganharam força ao conceder mais poderes de escolha aos usuários. Como Tim O´Reilley descreveu em um discurso em outubro de 2004, passamos a participar de uma nova fase da internet, uma rede 2.0, mais participativa e mais potente. Quem conseguiu alimentar a troca de ideias na grande praça, se deu bem. Sites como o Youtube se tornaram fenômenos de audiência porque deram poder ao público para publicar vídeos e escolher exatamente o que cada pessoa deseja ver, na hora mais conveniente - uma experiência absurdamente diferente de um canal de televisão, onde a produção de conteúdo e a escolha da programação é de responsabilidade exclusiva da emissora e, embora a grade convencional leve em conta o gosto do público, não é personalizável como ocorre no Youtube.

Em vez de agregar um contingente de telespectadores e vender sua fidelidade a anunciantes, o Google passou a conquistar uma platéia com os seus serviços gratuitos e está ganhando muito dinheiro com a veiculação de propaganda nos seus programas. As estratégias se assemelham, mas a grande diferença é que, ao contrário do telespectador, que possuía uma relação passiva com a televisão, o internauta se beneficia dos softwares do Google de forma ativa, publicando conteúdo e interagindo com um universo incalculável de outros usuários ao redor do mundo.

No momento em que a internet deu esse salto, uma mudança que ocorreu silenciosamente no meado da década, deixou de ser mais um nicho de interesse econômico para reproduzir o comportamento da sociedade. Se na praça as pessoas conversam e observam outras pessoas, o mesmo acontece na rede, mas de forma amplificada, mais pública, mais veloz. Com suas qualidades e defeitos, a sociedade está sendo amplificada e acelerada na web 2.0. Uma mudança e tanto para quem nasceu como a irmã mais nova - e menos lucrativa - dos tradicionais meios de comunicação.

* Este texto foi produzido para o Módulo 1 do curso Jornalismo 2.0 do Knight Center

Nenhum comentário:

Postar um comentário